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MATÉRIA TÉCNICA: Boas práticas de inoculação e coinoculação

Boas práticas de inoculação e coinoculação: Não basta utilizar, é preciso saber utilizar!

O uso de inoculantes, especialmente na cultura de soja, é uma prática já muito difundida, e sob meu ponto de vista, só não é mais valorizada por ter baixo valor agregado, o que leva alguns até a descrer sobre os benefícios atribuídos ao produto. Outro ponto que cabe enaltecer, são as séries de mitos e meias verdades que cercam o produto e sua utilização.

O processo de inoculação, como qualquer outro tratamento convencional, exige respeito a preceitos, bases e recomendações, para que enfim se tenha como resultado o esperado. Atualmente, são encontrados no mercado inoculantes líquidos e turfosos. O produtor deve escolher o produto se atentando ao registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e que tenha uma concentração mínima de 1,0 x 109 células viáveis de rizóbios por grama ou mL do produto, para que se tenha garantia de eficiência nesse processo. A concentração segue embasamento científico, onde após anos de pesquisas, chegou-se ao valor mínimo necessário para eficiência do produto de 600.000 células viáveis por semente, sendo que em cenário ideal, a inoculação deve fornecer no mínimo 1,2 milhões de células por semente.

Algumas recomendações, a fim de que se garanta estes valores mínimos, devem ser obedecidas. A primeira delas é ao que se refere ao armazenamento e transporte dos produtos. É recomendada a manutenção do inoculante a temperaturas entre 25ºC e 30°C, transporte sob as mesmas condições e abrigados da ação da luz solar, e que a inoculação seja feita à sombra e no mesmo dia da semeadura, para manter a viabilidade do inoculante, que vai reduzindo gradativamente a medida que atrasa a semeadura após o procedimento. Aqui cabe um parênteses. De forma mais recente, surgiram no mercado inúmeros produtos tidos como longa vida, e que segundo seus produtores, e suas recomendações permitem inoculações com prazos bem superiores a 30 chegando a 150 dias. Ainda vejo com reticencia este ponto. Segundo ponto a se abordar é com relação as dosagens. Em se tratando de um produto de baixo valor agregado, não vejo algo tão problemático em
relação ao agricultor a se utilizar de dosagens abaixo do recomendado, essencialmente em se falando em Bradyrhizobium japonicum. Na prática, vimos alguns agricultores utilizarem até dez vezes a dose recomendada. O problema que se segue e que talvez poucos se atentem, é no que tange especialmente ao uso de Azospirillum brasilense na cultura da soja. Há que se ter certa prudência na dosagem a ser utilizada na cultura da soja. Em coinoculação, somente 1 dose recomendada por hectare via sementes, ou 2 doses por hectare via sulco de semeadura, ou o que constar no rótulo do produto conforme registro no Mapa para a cultura da soja. Em termos mais práticos, não ultrapassar duas doses e meia a três doses por hectare.

Terceiro ponto, e que talvez seja o que suscita maior divergência: a utilização dos inoculantes turfosos. Em termos embasados, e seguros, não se deve usar inoculante turfoso diretamente na caixa da semeadora. O correto é preparar uma solução açucarada a 10% e usar entre duas a três doses para cada 50 quilos de sementes para umedecer e dar aderência; na sequência, adicionar o inoculante turfoso, misturar bem e deixar as sementes secarem à sombra, antes de abastecer a semeadora.

Embora esta seja a recomendação, é de ciência comum, tanto dos órgãos fiscalizatórios, quanto das empresas, consultores e produtores, que grande parte (me arriscaria a dizer que mais de 90%) do inoculante turfoso comercializado vai para a utilização direta na caixa de plantio. A Laboragro® atentando-se a esta utilização, desenvolveu junto aos seus fornecedores, um inoculante com uma moagem “mais fina”. A grosso modo, os inoculantes tradicionais utilizam-se de base turfosa com peneira 100 mesh, se assemelhando em termos de produto a um pó de café. A Laboragro® trabalha com uma turfa 200 mesh. Ou seja, temos uma turfa duas vezes mais fina, se assemelhando a um talco. Qual a vantagem? Um produto mais fino propicia uma melhor aderência, uma maior uniformidade na cobertura da semente, e acaba por dispensar a utilização de um inerte utilizado pelo produtor para propiciar o “deslizamento” da semente (o grafite).

Um dos últimos pontos que gostaria aqui de abordar, é com relação as misturas. É senso comum, que quanto menos entradas tivermos na lavoura, menores custos e danos teremos. Porém, com o intuito de realizar isto, o produtor deseja sempre utilizar o máximo de produto no mesmo tanque de
aplicação. Isso também se dá no tratamento de semente e no plantio. Se deseja utilizar o máximo de produtos com a finalidade de aumento de produtividade, ganho de vigor, sanidade de solo e planta. Mas é justamente nesta prática que reside o erro. O famoso “sopão”, não é uma prática recomendada, e tampouco salutar. Na composição vão desde que químicos a biológicos. O que se recomenda de fato é, que os inoculantes, como todo biológico, deve ser o último a entrar na composição. Em termos práticos, e que se mostram até melhores, a fim de se evitar a incompatibilidade com químicos utilizados no tratamento de sementes, pode-se realizar a inoculação no sulco de semeadura.

Temos outros pontos a se ressaltar, tais como não semear no pó, inoculações foliares (em se tratando essencialmente de Bradyrhizobium apenas de forma emergencial. A utilização de micronutrientes auxiliares na fixação biológica de nitrogênio, tais como o cobalto (Co), eo molibdênio (Mo), popular CoMo auxiliam a técnica. Outro ponto é com relação a dosagens suplementares de nitrogênio para cultivos de soja inoculados. Cabe salientar, que alguns estudos já apontam que a utilização de nitrogênio suplementar em cultivos inoculados de soja baixa a nodulação.

Em linhas gerais: Não basta ter um ótimo produto em mão, e não seguir as recomendações e condições base para se ter o resultado deste. Seguir as bases recomendadas não só garantem a melhor performance do produto, como também trazem os melhores resultados para a sua lavoura.

Autor do artigo: Jean Marcel Ragugnetti Furlaneto

Engenheiro químico pela UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Especialista em açúcar e etanol pela UEM – Universidade Estadual de Maringá

Diretor técnico da Laboragro – Soluções Biológicas

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