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MATÉRIA TÉCNICA: MERCADO DA SOJA – SOJA COM ALTOS TEORES DE PROTEÍNA

É notório o fato de termos uma evolução do mercado de soja. Originalmente, a soja era uma planta rasteira e habitava a costa leste da Ásia, principalmente a região nordeste da China. Sua evolução iniciou-se, aparentemente, a partir de plantas oriundas de cruzamentos naturais entre duas espécies de soja selvagem, cujo produto foi domesticado e melhorado por cientistas da antiga China por volta do século 11 A.C., resultando nas plantas eretas que hoje cultivamos. Em 1882 foi introduzida no país a soja, onde permaneceu esquecida por mais de 70 anos. O fato se deu pelo fato da tentativa de exploração comercial do grão ter sedado na Bahia. O insucesso deveu-se ao fato de que a soja então cultivada pelo mundo era adaptada a climas temperados ou subtropicais, predominantes em latitudes próximas ou superiores a 30ºC, fato similar ao ocorrido inicialmente nos EUA.O cenário nacional começou a mudar quando a cultura foi avaliada para as condições de clima subtropical do Estado do Rio Grande do Sul (RS). Até a década de 60 o estado gaúcho praticamente era o único responsável pela produção nacional da comoditie.

Se na década de 50 a produção nacional era de aproximadamente 34 mil toneladas, nos meados de 70 este valor já era virtuosamente sete vezes maior. Entre 1990 e 2017, ou seja 27 anos, o aumento da área produtiva foi de 200%, enquanto o aumento produtivo foi de quase 400% (387% para ser mais exato).Para termos dimensão, em 1998 tínhamos algo próximo a 180 registros de cultivares de soja, sendo todas convencionais. Em 2015 tínhamos próximo a 500 registros de cultivares convencionais e outros quase 800 cultivares geneticamente modificados (*Dados do MAPA). E o que podemos dizer sobre a produtividade? A produtividade média da cultura a nível nacional passou de 1740 kg/ha na safra 1989/90 para aproximadamente 3273 kg/hana safra 2019/20. O expressivo incremento da produtividade da soja pode ser atribuído aos avanços genéticos, culturais e técnicos desenvolvidos no meio agropecuário e ao investimento tecnológico no cultivo. Excelente? Sim. Suficiente para a evolução global? Eu me atrevo a dizer não!

Vamos analisar qual o principal mercado apresentado pela comoditie: suplementação animal. Ao atentarmo-nos para este mercado, precisamos ter o olhar do cliente. Neste caso, o olhar de interesse do cliente está na proteína oferecida pelo grão ao incrementá-la na alimentação de seu plantel. Se no início da produção da soja no país tínhamos baixas produtividades, por outro lado tínhamos grãos com teores de proteína mais elevados. Saímos de teores próximos aos 40%, para cenários próximos a 35%. Somente algumas empresas de melhoramento estão reavaliando seu germoplasma e selecionando cultivares para níveis mais elevados de proteína. Essas cultivares podem também ser qualificadas devido ao alto teor de isoflavonas e direcionadas a mercados de alto valor agregado, para consumo humano. Elas são utilizadas para produção de leite de soja, refrigerantes, indústria de panificação, e análogos de queijo e carne.

No Brasil, pouco se tem trabalhado visando à produção de soja de alta proteína. Ao passo que nos Estados Unidos, milhares de hectares de soja com essa característica têm sido plantados no meio oeste americano, principalmente destinada ao mercado de exportação. As variedades de soja de alta proteína típicas têm produtividade 5-6% menor que as cultivares comuns. Os prêmios pagos ao produtor americano atualmente estão em torno de US$ 0,7 a 2,50 por bushel (US$ 1,20 a 4,00 por saca). Isso representa de 5 a 15% de prêmio em relação à soja convencional.

Me atrevoa dizer que não obstante viveremos uma evoluçãodo mercado de comercialização do grão, onde deixaremos de ter pagamentos atrelados somente pelo peso, e sim com tabelas e regras que tipifiquem e valorizem os grãos de forma bastante diferenciada. O mercado de germoplasma e de empresas conseguirá atender a tempo esta evolução? Creio que não em sua plenitude. Basta analisarmos que entre a pesquisa base, e o registro e a habilitação efetiva de comercialização da semente temos um longo caminho, que chega a levar uma década.

Mas então qual será a melhor tática diante deste cenário evolutivo? As práticas de manejo da lavoura para produção de grãos com bases mais sólidas, e que propiciem as cultivares expressarem em sua plenitude não só a produtividade, com a qualidade é o melhor e mais fácil caminho a ser percorrido. A adoção de melhores práticas culturais de correção das necessidades nutricionais básicas da cultura e do solo são um dos caminhos. A utilização de inoculantes é a princípio o caminho mais barato, sustentável e rentável aos produtores. Lembremos que os inoculantes a base de Bradyhizobium conseguem suprir a soja a totalidade de nitrogênio necessário a cultura para pleno desenvolvimento, dispensando a utilização de suplementação química do macronutriente. Mas o que tem a ver o nitrogênio com a proteína? Vamos lembrar aqui a composição básica macro do grão da oleaginosa:

Figura 1.0 – Composição percentual do grão de soja.

Se nos atentarmos a níveis moleculares, saberemos que das principais frações componentes do grão desoja, e nos atentarmos ainda em nosso alvo, proteína, veremos que a chave em níveis de elementos químicos componentes está justamente no nitrogênio. Para termos ideia do significado, para alcançarmos os patamares produtivos já mencionados, precisaríamos de algo próximo a 282 Kg de nitrogênio por hectare, dos quais 60% vão para os grãos. Não é preciso ser matemático para calcular os custos necessários com adubação, e fertilizantes químicos, ainda mais em cenários pandêmicos e de conflitos internacionais que estamos atravessando. Outro fato, é que muito embora tenha havido uma evolução no sentido da liberação gradativa nutricional de nitrogênio, suprindo uma lacuna até então existente pela lixiviação e evaporação do nutriente, ainda há uma lacuna de base científica.

A inserção de nitrogênio químico no meio, além de custosa, inibe a salutar nodulação dos microorganismos, e não atende na totalidade e no momento necessário o teor do nitrogênio. Ainda falando em custos, se os produtores têm recebido prêmios variam para soja de alta proteína, da ordem de até 5% entre o prêmio e o teto produtivo, isto representaria um aumento de faturamento de US$ 1,40 por saca. Em se considerando uma produtividade média de 50 sacas por hectare, o aumento do faturamento seria de US$ 70 por hectare. Façamos então a conta em outro viés. Para suplementarmos o nitrogênio necessário com utilização de cobertura de uréia (talvez a mais difundida e utilizada pelo produtor), teríamos uma necessidade básica aproximada de 600 Kg de uréia por hectare. Com os custos vertiginosamente altos, chegaríamos facilmente a um custo próximo ou superior a R$4.000,00 por hectare somente com uréia. E qual seria esta mesma conta com inoculação de Bradyhizobium?

Falando em mercado final temos valores bastante discrepantes, mas em linhas gerais dificilmente ultrapassamos a casa de uma dezena ou pouco mais do que isso com altas doses de inoculantes, e a adoção de coinoculação (ainda mais vantajosa).

Quer saber mais sobre como fazer uso da tecnologia de inoculação e coinoculação, e ter resultado? Isso cabe outro artigo, mas a Laboragro® certamente tem a resposta!

Autor do artigo: Jean Marcel Ragugnetti Furlaneto
Engenheiro químico pela UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Especialista em açúcar e etanol pela UEM – Universidade Estadual de Maringá
Diretor técnico da Laboragro – Soluções Biológicas

 

Foto de capa: Fernando Dias/Seapa

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